O despertador toca às 06:30 em ponto, mas minha soneca se estende por mais de 30 minutos. Por que ainda é tão difícil levantar da cama? Depois de muito relutar e lembrar que não posso me atrasar mais, tomo coragem e coloco os pés no chão. A água quente do chuveiro me dá mais vontade de ficar no conforto de casa, mas não posso. E por que não posso?
Ah, isso é uma curta longa história.
Ganhei meu primeiro salário quando eu tinha 18 anos. A primeira coisa que fiz? Parcelei um Kindle em 12 vezes no cartão. Depois disso, vieram várias outras pequenas parcelas e elas nunca pararam. Assim comprei minha câmera, roupas novas, viajei. Nunca me arrependi dessas escolhas, até que elas saíram do controle.
O difícil de administrar cartões é que eles te dão a sensação de que você vive com dinheiro, mas a realidade é que não vive. Na verdade, graças a ele, você vive com dívidas.
E isso nos leva de volta ao início do dia, com o despertador tocando. Eu te pergunto, por que uma pessoa que tem a escolha de ter uma vida mais livre, talvez fazendo seu próprio horário, vivendo aventuras e experimentando coisas, escolhe acordar 06:30 e só voltar pra casa às 19:00? Sem filhos, casa pra manter, ou parentes que necessitam de ajuda?
Alguns dizem paixão, outros dizem “vida adulta”, mas eu, infelizmente, continuo nessa escolha pelos parcelamentos. Claro, existem pessoas que se satisfazem com essa vida, talvez um dia ela volte a me satisfazer também, mas não agora. Sim. Mentiria se dissesse que foi sempre assim, teve a época em que eu amava o que fazia, teve também a que eu me via evoluindo, até teve a que eu ficava grata por ter a melhor rotina, com o melhor emprego da vida. Mas esse tempo se foi.
Agora me vejo presa, presa a um emprego que não me gera felicidade, em uma rotina que eu não vejo propósito e tudo pelo que? Pelos parcelamentos. Você deve estar pensando: ah, então troca de emprego! Sim, é uma possibilidade e estou correndo atrás disso, mas sabemos que o ciclo será reestabelecido e esse ciclo não faz mais sentido pra mim.
Eu sempre tive sonhos, sonhos mesmo porque nunca notei que eles poderiam se tornar realidade. Mas agora coloco eles no papel e vejo que são possíveis. Claro, não ainda, afinal, tem os parcelamentos. Parcelamentos que me impedem de juntar dinheiro, de comprar coisas que seriam necessárias pra me aventurar nesses sonhos, de pedir demissão e mudar completamente de vida, sair dessa vida. Não acho que mudar isso será a fonte de felicidade suprema, mas tenho certeza que trará novamente algo. Aquele algo que eu senti quando comecei a faculdade, ou quando entrei na empresa onde trabalho atualmente. Aquele algo que essa vida não me traz mais.
Por agora, só sei que quero sair. Sair dessa vida ansiosa, que não espera para ter as coisas, que enjoa enquanto ainda tá pagando, que vive com dor de cabeça assim que o mês se encerra. Que vive o hoje sofrendo pelo ontem inconsequente, ansiosa pelo amanhã incerto e ferrando todas as possibilidade de sair desse ciclo. Encontrando felicidade em bens materiais e no status que eles trazem.
Mas estou trabalhando nisso, quitando mês a mês essa vida que criei desde o meu primeiro salário. Se será um caminho fácil? Não, mas eu preciso me livrar dos parcelamentos, das amarras que me prendem a uma vida que um dia eu amei, mas que hoje pago por ela em 12 vezes no cartão.
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