“Ana amou João por um mês inteiro, foi o que durou o relacionamento deles. Já João, por outro lado, sempre soube que não existe a palavra ”amou”. É um verbo que não se conjuga no passado. Existem similares como ”desapegou”, ”esfriou” ou até mesmo ”superou”. Mas ”amou”? Não quando se sente a essência do sentimento. Se João amava Ana? Nada. É outra coisa que nunca existiu na história deles dois.
O amor de João sempre foi Elena, a colega que estudou com ele lá na sexta série. Foi seu primeiro e único amor, pois como já dito, ele sabia que amor de verdade só acontece uma única vez. Lendo a crônica de Ana e João, percebi que todos nós temos um pouco desse clichê. Um que não sabe o que é amar, e que ama demasiadamente a ”cada” amor. E um que sabe o que é amar, por ainda guardar pequeno o seu ”grande” amor. Percebe o quanto essa infelicidade é frequente? Eu mesmo devo conhecer umas cem ”Anas”, e uns cinquenta ”Joãos”. Não de nomes, mas de almas. Casais que, juntos ou separados, formam a história mais comum do mundo: Era um vez a necessidade de se encontrar um amor, e essa necessidade fez com que dois completos estranhos, com sentimentos diferentes um pelo outro, ficassem juntos até o momento em que percebessem que tudo não passava de uma total perca de tempo. É, sem sombra de dúvidas, a história mais contada pelos Deuses sobre nós humanos. A única dúvida é qual o gênero literário disso tudo. Ana via como comédia de qualquer forma, pois duas semanas depois ela estava namorando o Roberto, e estava mais uma vez vivendo o grande amor de sua vida. João via como tragédia, pois de todo modo ainda não conseguia esquecer Elena. Mas que grande emaranhado! E, às vezes, ainda ouço alguém falar que a vida é simples. Talvez simples pra quem não ame, pra quem não revolucione, pra quem não sonhe alto, talvez simples pra quem não viva.
Pra mim, ela sempre será um grande e complexo emaranhado de pessoas, ligadas de forma absurdamente injusta e dolorosa. ‘’E eles viveram infelizes para sempre… ’’. É ao que estamos todos destinados. Eu, você, João, Ana, Helena, Roberto, o vizinho que sai pra trabalhar cedo, a tia do exterior que só compra coisas caras, a senhorinha que lava roupa da família na lavanderia do prédio. Não importa que aparência temos, ou o sorriso que carregamos, sempre falta algo. Enquanto Helena não se apaixonar por João, e enquanto Ana não aprender a amar, vai ser sempre uma tragédia, uma comédia, ou até mesmo um suspense. Mas nunca, pode ir conferir na última página se quiser, nunca será um ‘’felizes para sempre’’ de um romance clichê. Aliás, de um romance raro, porque, contrariando a grande ilusão que todos acreditam, faz muito tempo que romance de verdade deixou de ser comum.”
— Ana, João e a crônica dentro da crônica, Reorquestrar.
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