, ,

Não há tempo

Walter Benjamin em sua vida desenvolveu de modo sofisticado o conceito de experiência. Esse que por ser tão complexo inspirou vários de seus ensaios e em um deles, sobre Baudelaire, trouxe o conceito para o lado mais sensível. Nessa ele acabou chamando a experiência de vivencia e evidenciando as formas de atingi-la, onde a experiência…

By.

min read

Walter Benjamin em sua vida desenvolveu de modo sofisticado o conceito de experiência. Esse que por ser tão complexo inspirou vários de seus ensaios e em um deles, sobre Baudelaire, trouxe o conceito para o lado mais sensível. Nessa ele acabou chamando a experiência de vivencia e evidenciando as formas de atingi-la, onde a experiência de dentro poderia ser atingida ao meditar, ou consumir drogas, e a experiência de fora adquiriríamos conhecendo o mundo, os continentes. Meditei e me droguei o suficiente, mas conhecer o mundo é um pouco mais difícil. Não que eu não tenha dinheiro, ou disposição, eu apenas não tenho tempo. E de fato nunca terei. Não sou um workaholic ou coisa do tipo. Só descobri que o tempo que me resta é pouco.
 

O triste é que achei que isso duraria mais. Todo mundo acha. Mas me enganei feio. O que me resta é quase nada. E são tantos planos inacabados, desejos, sonhos. Eu realmente precisava de mais tempo. Precisava desfazer maus entendidos, terminar frases que deixei pela metade, e adquirir experiência. Afinal, Benjamin também dizia que os jovens tem o mundo aberto. Eu quero meu mundo aberto e tempo para explorá-lo. Com o que eu tenho não poderia ir até a Argentina e dar uma passadinha depois em Paris, ou mesmo visitar minha pátria de ponta a ponta. Não há tempo. E eu tive tanto. E desperdicei. Poderia ter amado ele um pouco mais, abraçado meus amados mais vezes, também lido mais clássicos, conhecido mais bandas, saído e adquirido mais experiência.

E agora com o que me resta eu não sei o que fazer. Será que devo escolher uma só coisa para realizar? Um só lugar para conhecer? Uma só pessoa para abraçar? Uma só carta para mandar? Porque não há tempo para tudo. Não há.
Deixar um bilhete na mesa com tudo o que eu gostaria de ter feito e não tive tempo seria uma boa opção? Sabe, para eternizar todas essas ânsias e coisas do tipo? Talvez. Mas não tenho certeza se escrever era mesmo o que gostaria de fazer nos momentos antes do fim.
São tantas dúvidas e tão pouco tempo para respostas. Eu só queria mais tempo.

Ainda vivo no dilema do peso e da leveza e gostaria de ter mais tempo para decidir. Ainda não li tudo que tem na minha estante e nem ouvi todas as músicas dos Beatles. Ainda não conheci a capital, nenhuma das capitais, nem conheci de fato a cidade onde nasci e vivi. Não sei encontrar Júpiter no céu e nem conheço os nomes das constelações. Tenho fotos revelando e não sei se devo ir buscar e passar o que me resta trilhando o caminho de sempre.
Ah! vida, porque coloca nas mãos de uma indecisa a grande questão da vida?

A única coisa da qual tenho certeza é que preciso de um pouco mais de tempo para decidir e para viver. Quero explorar e conhecer tudo que eu tenho direito, ou pelo menos uma parte. Não ligo se o tempo continuar voando, só não quero voar com ele ainda. Quero ficar mais um pouco. O que custa?
Não sei para quem implorar, não acredito em Deus, nem tenho fé no Universo. A morte é difícil para os céticos. Mas não há tempo para restabelecer a fé, ou adquirir alguma crença. Só me resta esperar. Sentar e esperar. Porque não há tempo. Não há e nunca terá. Nunca terei.

Amanda Teló.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.