Essa semana vi um filme da Netflix de romance/drama chamado Newness. O filme de 2017 do diretor Drake Doremus, se propõe a abrir um diálogo sobre os relacionamentos modernos.
Talvez esse post contenha spoilers (nada que estrague a experiência cinematográfica).
Como já escrevi por aqui, estou em um processo de escolher bem o que trago para a minha vida. Então logo que se iniciou o filme uma reflexão pairou sobre minha cabeça: 90% dos meus relacionamentos se iniciam através de um aplicativo mega superficial, por um critério mega superficial, o que isso diz sobre mim?
Tudo bem, é só mais um meio, mais uma facilidade, e se souber usar, não tem problema. Então assim como os personagens desse filme, eu embarquei em algumas coisas que até que deram certo.
Mas ao pensar sobre os meus últimos relacionamentos, verifico um padrão: relações rápidas, superficiais e de certa forma, vazias. Eu já refleti sobre isso na iniciação científica da faculdade, mas agora que vivi algumas coisas, vou me dar o direito de pensar mais.
Eu não sou a pessoa que demoniza a tecnologia, nem acha que ela é a causa de tudo. Como já disse antes, ela só expõe mais algumas coisas que sempre existiram no ser humano. Mas seria ingenuidade achar que as mudanças que ela traz, que causam essa grande mudança de era, não impactam diretamente nas relações humanas.
A pressa que o mundo moderno impõe as nossas vidas cai diretamente sobre relações. Temos pouco tempo, muitas opções e nenhuma noção do que será o futuro. Então iniciamos relações e a terminamos na primeira quebra de expectativas, afinal, tem outras mil e uma pessoas melhores por aí. Ou nem precisa quebrar expectativas, as pessoas só param de se falar naturalmente, já que nenhuma relação foi criada naquele encontro, a gente não sente falta do que não fez diferença. Tudo aquilo de relações líquidas que Bauman vivia falando.
Mas existem casos e casos, e no filme vemos o clássico caso da paixão. É assim, a química se inicia no cérebro e é sem muita explicação que no meio desses relacionamentos vazios, encontramos aquele alguém que se encaixa.
E tudo é maravilhoso, por um tempo. Aí a gente começa a se aprofundar no outro ser, e ver que ninguém é feito só de dias felizes. E o que acontece? Pulamos fora, já temos os nossos problemas para lidar, o erro é que na verdade iniciamos um relacionamento sério só vendo a superfície da outra pessoa. Mas existem aquelas pessoas que continuam tentando.
Tentamos encontrar novamente aquela excitação do início, talvez como os personagens, tentar um relacionamento aberto. Ter o gosto da liberdade junto com o conforto da relação. Pode funcionar, ou não. Se não, mergulhamos novamente na complexidade e nos aprofundamos um pouco mais no outro e em nós mesmos.
Acho que o problema é que a gente esquece que o ser humano é feito de mil coisas, instáveis, mutáveis e tudo possui fases. Parece que nas relações queremos viver na fase do “sempre felizes, mega apaixonados” pra sempre. Mas não dá, até isso enjoaria. Então, quando cai na famosa e odiada rotina, a única coisa é saber se vale a pena continuar tentando.
Se sim, dentro dessa rotina mil e uma coisas novas vão se iniciar, rotina não significa transar 1 vez por semana no mesmo horário, só é um jeito mais calmo e por isso menos cansativo de se levar a relação. Mas às vezes a gente só não tá maduro pra isso ainda, às vezes a gente precisa viver outras coisas, ou ainda conhecer mais gente. Mas é assim, tudo um dia vai tranquilizar. Precisa, né? Ninguém aguenta ou consegue viver correndo pra sempre, às vezes precisamos caminhar, sentar, pra depois voltar a correr ou escolher comprar um bike.
Enquanto eu via o filme, me peguei em muitos momentos pensando: só esse tipo de ralação pode funcionar. Isso aconteceu quando eles estavam só na curtição, quando eles começaram a namorar sério, quando eles abriram a relação, quando eles tentaram com outras pessoas. Parece que algo aqui no meu cérebro só legitima relações que estão felizes.. Que erro, né? Mas é um erro comum, a gente não aceita nem viver a nossa bad, quem dirá aceitar a bad durante os relacionamentos.
Ao mesmo tempo que não concordo com o tipo de relação que nossos avós levavam, vejo a beleza na tentativa. Admiro também a liberdade dos nossos pais de demorarem mais pra casar, ou poder escolher acabar com o relacionamento. Mas estou bem longe do saudosismo e romantização do passado. Amo a independência que a nossa geração criou, afinal, quem disse que precisamos seguir algo tão tradicional, ou ter algo pra sempre? Mas ao pensar sobre o próximo passo me lembro do extremo disso, como vemos no Japão. As pessoas priorizam outras coisas além de relações humanas. E aí? Qual é o próximo passo lógico dessa evolução?
E não é um padrão só de relações amorosas, é algo que acontece em todas as relações. Vocês tem muitos amigos de rolê? Aquele amigo que só tá ali pro momento de descontração? É a mesma coisa.
Talvez não cheguemos no extremo, talvez a gente consiga encontrar o meio termo que una todas essas formas. Mas vendo o padrão superficial que nossas relações estão tomando, eu tenho medo de onde isso irá chegar.
Só espero que continuemos tentando, assim como o filme. Mas é um romance, ele tende a romantizar as coisas, né?
Eu não sei, mas gosto de pensar. Se quiser um filme que reflete sobre relacionamentos modernos, com uma fotografia bonita e personagens complexos, veja Newness.
Vocês conhecem outros filmes que refletem as relações modernas?
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