Dias atrás em uma das minha idas em uma Sebo, me deparei com um livro de contos, crônicas, poemas e artigos, com uma capa que me lembrava uma das versões de Dom Casmurro (aquelas com os olhos de uma mulher), com o título “Da Minha Janela”. Até então nunca tinha ouvido falar do autor, um tal Antonio Roberto de Paula, mas o trecho do conto que estava na contra-capa me chamou atenção.
Era mais ou menos assim: “Da minha janela vejo a ponta da Catedral (..) Da minha janela vejo Maringá com mil olhos sem saber quais são verdadeiros”. O que eu achei interessante, é que esse trecho fala sobre minha cidade, minha Maringá. É estranho pois nunca tinha me deparado com um livro que falava sobre aqui, e falava com tamanha poesia, paixão e realidade. Logo me encantei, e comecei a pesquisar sobre o autor.
Descobri que Antonio Roberto de Paula é jornalista, e além disso cronista, poeta, vídeo-documentarista e ainda Assessor de Imprensa da Câmara Municipal de Maringá. Este livro “Da Minha Janela” foi o primeiro que ele publicou. E posso dizer que ele já está na lista de pessoas que eu quero conhecer.
“Da minha janela vejo a ponta da Catedral. Já passei por tantas janelas, mas tenho a sorte ou a graça de Deus de sempre vislumbrar parte deste Sputinik de concreto. Hoje, cá onde me encontro, só vejo a cruz. Este símbolo católico me persegue e a cada dia o defino de uma maneira. Já me rebelei com a ostentação e já me emocionei com a fé construtora desta comunidade.
Fiz da Catedral a representação maior do meu amor por Maringá. E, como contraponto, ao ver esta imponente armação de cimento, me culpo por não buscar novos caminhos. Os anos passam e estes pensamentos antagônicos estão comigo. Tantas janelas, ângulos, olhares. Importantes e parcas vitórias, derrotas providenciais e uma luta diária igual a muitas outras de muitos outros. Um céu de paradoxos me invade.
Meus olhos já não enxergam tanto como antes, mas hoje me atenho mais a detalhes. Os horizontes ainda estão lá. A cidade cresceu e pela minha janela não posso descortinar tantas possibilidades. Mas elas ainda existem. Penso em aumentar meu campo de visão, mas esta paisagem encanta, conforta e acomoda. Dia, noite, sol, néon, roncos, silêncio, chuva, grama, asfalto, árvores, flores, carros, casas, muros, placas.
Tudo confusamente ordenado. Uma natureza feliz com a invasão. Da minha janela vejo a ponta da Catedral, os prédios, o verde. Vejo uma cidade que buzina, acelera, avança. Cidade clara e obscura. Planejamento, estética, beleza física. Cidade desorganizada de idéias e objetivos, o espírito coronelista ainda a rondá-la, resquícios da ”fazendola iluminada”, expressão utilizada nos anos 70 para chamá-la de provinciana. Maringá canção, artística, pólo, vigorosa.
Da minha janela vejo Maringá com mil olhos sem saber quais são verdadeiros. Da minha janela vejo gente que nasce e morre, ri da vida e chora pela morte, comemora e sofre, conta vantagens e percalços. Gente que ama e odeia, que sonha e tem os pés no chão. Gente do bem e do mal. Gente nem tão boa e nem tão má assim. Gente que me completa e me esvazia, que me faz ser doce e amargo, sereno e turbulento.
Da minha janela vejo esta vida passar como deve ser, na essência, a paisagem de todas as janelas de todos os lugares. Concluo que aqui ou em qualquer outro “lá” não intensificaria ou reduziria minhas emoções. Posso ter outros campos de visão, mas o eu que me leva não vai me deixar porque os mil olhos vão estar sempre atentos. Seja onde for, o antagônico e o paradoxo vão estar comigo. Vai sempre existir a ponta de uma Catedral.“
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