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Querida Amanda,

Querida Amanda de 22 anos, você não faz ideia das coisas loucas que aconteceram até agora. Dois anos nos separam, mas parece que foi uma vida. Vou te dar alguns spoilers: sabe essa angustia que você tá sentindo com o trabalho? Você finalmente vai ter coragem de se decidir (inclusive, depois de muito choro) a…

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Querida Amanda de 22 anos, você não faz ideia das coisas loucas que aconteceram até agora.

Dois anos nos separam, mas parece que foi uma vida. Vou te dar alguns spoilers: sabe essa angustia que você tá sentindo com o trabalho? Você finalmente vai ter coragem de se decidir (inclusive, depois de muito choro) a pedir demissão. E vai viajar. Sim, mas não só uma viagem, você vai passar 3 meses viajando, contando dinheiro e tentando pela primeira vez sobreviver dos freelas. Mas isso vai te fazer crescer uns 3 anos em 3 meses, graças a muito choro, escolhas, sorrisos, pessoas e histórias incríveis dignas de filmes com roteiro forçado.

 

E vai se apaixonar, uma, duas, três, quatro vezes. Você vai se apaixonar até perder as contas. E daí vai se apaixonar novamente. Vai viver um relacionamento que vai te destruir e um tempo depois outro que vai te ajudar a se reconstruir. No meio disso vai viver algumas experiências que vão parecer desperdício de tempo, mas calma, aqui no futuro elas vão te ajudar muito a tomar decisões fundamentais.

Vai conseguir um emprego, depois pedir demissão, e outro emprego e pedir demissão novamente. Vai finalmente se tornar alguém que não desiste fácil. A meta de andar de bike o ano todo funcionou, a de começar a terapia também (inclusive, obrigada por essa escolha!), e o inglês.. a, se eu te contasse.. Tá, vou contar. Você entrou na aula de inglês, teve um crise de ansiedade e foi pra emergência do hospital. Você ainda não sabe, mas foi realmente difícil pra você fazer um esforço tão pesado sem entender claramente o porque. Mas te digo, aquela meta de ter uma conversa em inglês vingou, inclusive, você conversa tranquilamente em inglês pelo menos 2 vezes por dia com o amor da sua vida. Agora você tem um porque. Quem diria.

Eu te conto essas coisas até rindo, porque são incrivelmente inacreditáveis. Você finalmente começou a entender o que é amizade, apesar de ter algumas crises de carência semanalmente. Mas calma, agora eu chamo isso de processo. Sim, inclusive, a gente aprendeu uma coisa que mudou tudo: tudo passa. Parece óbvio, mas eu sei que quando o coração fica pesado e o ar parece escasso, é bem difícil entender que vai passar. Mas vai, talvez demore, mas não vai ser assim pra sempre. Não que sua vida será estável, mas você vai entender que é possível lidar, aprender e seguir em frente.

Assim como aquela vida temida baseada no equilíbrio não é ruim. Eu sei, você acha que a vida só vale a pena se você viver grandes e intensas emoções, mas a vida é boa quando as emoções são calmas. A gente fez uma regulação emocional que mostrou que diminuir a expectativa não diminui a felicidade, mas sim te torna feliz por mais tempo e por coisas mais simples. A calmaria é incrível.

E nesse meio tempo você vai se banhar em águas inacreditáveis, vai ver pores do sol magníficos, vai ter passeios de bike incríveis, caminhadas alucinantes, vai sentir brisas nunca antes imaginadas. Vai sentir amor, vai se sentir viva, vai se sentir morrendo pra depois se sentir renascendo.

Você vai perder uma das pessoas mais importantes da sua vida, mas graças a tudo que você passou, você vai sobreviver. E vai viver, um pouco por você, um pouco por ela. Porque ela sempre te disse pra não desperdiçar as oportunidades, pra viver como ela nunca teve a oportunidade de viver.

Outra pessoa que você ama vai perder a liberdade, e vai doer muito. Mas vai te ajudar a entender e valorizar a possibilidade de poder escolher e caminhar livremente.

E você vai escolher, fazer uma das escolhas mais pesadas e decisivas da sua vida. Deixar tudo que você conhece e ama para trás, para seguir sua própria jornada. Uma jornada dura, por terras e idiomas desconhecidos, mas você vai ficar bem. Claro que vai, olha por tudo que você passou nesses 2 anos e você tá aqui, eu to aqui, muito feliz e grata por tudo que pudemos viver.

De verdade Amanda, eu admiro sua coragem, ou talvez loucura (como eu amo chamar). Mas você aprendeu a ser focada, entender os passos, os porquês, sentir a dor e mesmo assim pedalar mais um pouco, nem que pra isso você precise sentar, tomar uma água para aí sim retomar.

É realmente incrível como tudo isso fez você, como tudo isso me fez. Cada dor, cada felicidade, cada escolha. E hoje estamos aqui, num lugar doido onde nós nunca nem pensamos que poderíamos estar.

Sério mesmo, lembro da primeira vez que você pensou sobre mudar de país, estava em uma conversa com o bê e disse que nunca teria coragem, imagina viver longe de todo mundo, com um idioma novo, mudando sua rotina, seu fuso horário, sua alimentação. É doido né? Mas você foi, sério, VOCÊ FOI! Quão inacreditável é isso? Você decidiu, planejou, guardou dinheiro e estudou o idioma. Sério, parabéns.

Outra coisa importante foi que você aprender a se amar. Você passou por uma transição capilar, de vez em quando ainda tem uma crises com isso, mas consegue se olhar com carinho pelo menos uma vez por dia. Seu corpo não mudou drasticamente, mas seu olhar te revolucionou. E ainda aprendeu uma frase muito importante: vai feia mesmo. Porque sua aparência não é o que mais importa em você, sério mesmo. É só uma das coisas, porque você é foda. FODA Amanda.

Ás vezes eu penso que você deveria tatuar isso, porque parece que até hoje você esquece disso TODO SANTO DIA. Você esquece que toda essa jornada é sua, cada escolha, cada dificuldade, cada vitória. É tudo seu, você sabe que você consegue, mas ainda assim duvida. Mas eu sei, algumas coisas são bem difíceis, auto confiança ainda é uma delas.

Vou nomear dois tópicos pra você trabalhar no futuro: auto confiança intelectual e relacionamentos interpessoais. Anota essa e vai vendo.

Mas sem pressão, cada coisa tem seu tempo, e você vai chegar lá. Claro que vai, ás vezes eu aqui me boto uma pressão meio doida, como se o relógio fosse contra mim. Eu penso: “meu deus, já 24” mas na verdade deveria ser “meu deus, ainda 24”. Amanda, sério, conta aqui comigo: suponhamos que você viva até uns 80 anos, são 56 anos para viver. TIPO, você nem viveu 1/3 da sua vida ainda!

Você pode trabalhar com coisas que hoje você nem imagina, você pode criar outro ser humano, você pode amar mil e uma outras coisas na sua vida, sabe? Você tem tempo. Mas nem por isso o desperdice.

O tempo é longo, mas ele não é infinito. Então viva, não to falando pra viver loucuras, mas viva sim uma vida que vale a pena ser lembrada e grata (principalmente por você daqui uns anos). Continue andando e crescendo como você fez nesses 2 anos, tome decisões que parecem insanas, deixe os outros te chamarem de louca ou admirarem sua coragem, mas vai. Vai mesmo, você sabe quais riscos merecem ser corridos. Então vai.

Ah, lembre-se também de valorizar a falta, o vazio. Isso faz sua vida se manter no equilíbrio. Porque você não precisa de tudo, você precisa das coisas certas. Sim, nesse mundo louco parece que você tem que ocupar toda a sua vida com mil e uma coisas, mas não precisa. O minimalismo vai chegar na sua vida e botar tudo de ponta cabeça. Já vou avisando, não vai ser simples, mas vai ser incrível. Você vai ter recaídas, mas vai ver como tá conseguindo evoluir bem.

O importante é não parar, mas você pode e DEVE descansar, pra renovar as energias e continuar. Sim, continuar nessa caminhada incrível que é a sua vida. Na plaquinha que vai ter um pouco das suas cinzas na casa dos seus filhos (sim, a gente mudou de ideia sobre isso, você vai entender o porque..) talvez esteja escrito “ela andou por caminhos incrivelmente lindos e soube apreciar a paisagem”. Talvez seja sobre isso, sabe?

Aprender a andar, aceitar que os pés doem, que a perna fica mole, que tomar água é necessário, e que pra correr você precisa de uma preparação anterior. Ter corrido mais devagar em outras vezes, comido coisas que te dão energia, dormido bem. E quando você tiver passando por aquele lugar que dá pra ver a cidade toda, você aprenda a parar, admirar, e lembrar que todo o esforço valeu a pena e que você ainda vai sentir uma brisa maravilhosa no caminho pra casa. A casa que pode ser em qualquer lugar, porque o lar você vai aprender a construir com tudo que você ama.

Amanda, eu poderia escrever um livro sobre tudo que aconteceu nesses 2 anos, mas eu acho que já dei spoiler demais. Deixo você viver e talvez tirar outras conclusões disso. Mas eu queria mesmo agradecer, agradecer novamente por isso. Por ter caminhado até aqui, por me dar a preparação que eu preciso pra continuar a correr, correr pra ver o pôr do sol de lugares inimagináveis.

Obrigada e feliz aniversário.

Com muito amor, carinho e gratidão,

Amanda,

08/12/2019.

 

 

 

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