Era 16 de dezembro de 2017 quando eu apertei o REC da câmera porque queria tentar.
Tentar ser eu, tentar continuar, tentar mudar. Só sobreviver não tava sendo uma boa escolha. Então eu arrumei minhas malas, saí pra conhecer o mundo e tentar me entender. Mas aquele sentimento estranho tava ali, e quando a grande emoção da viagem acabou, eu me vi naquele mesmo lugar novamente. Eu tava tão infeliz que eu perdi as contas de quantas vezes eu só queria deixar de existir.
Mas como boa desesperada, a procura começou pelo lado errado, fiz uma lista de coisas que PRECISAVA fazer. Ser fluente em inglês, perder 10 kg, fazer uma pós graduação, juntar dinheiro e depois voltar a morar sozinha. Não era o plano que era ruim, mas o porque de cada item. Esses itens só estavam na lista porque em algum momento eu achei que era o que precisava ser feito. Tipo igual comprar uma casa, casar, ter filhos, eram só itens da vida adulta “perfeita”.
Nada contra eles, volto a dizer, alguns deles foram colocados novamente na minha lista. Só que o problema nunca foi fazer uma lista e não conseguir executar. O problema sempre foi: “por que” cada item estava ali? Quando você não tem seu porque claro, é impossível manter a motivação e passar por todas as dificuldades que qualquer escolha traz. Parece até papo de coach, mas é verdade.
Acontece que graças a isso eu entrei em um ciclo infeliz, porque eu odiava cada uma das coisas que coloquei na lista, simplesmente porque só fazia sentido lógico, o meu sentimental tava destruído e esmagado. Nada de mente sábia, somente um lado sendo ouvido. Nesse meio tempo fiz péssimas escolhas amorosas pra compensar essa falta, PÉSSIMAS, mas depois de uma crise de ansiedade na minha primeira aula de inglês, com direito a ir pra emergência do hospital, eu vi que esse realmente não era o caminho do recomeço.
Então qual era? Não sabia MESMO. Eu chorava, escolhia, me decepcionava, me sentia culpada e o ciclo se manteve. Até que uma luz veio e resolvi parar tudo, manter só o trabalho e investir em saúde.
Psicólogo e academia, sem objetivos pro futuro além de ficar bem comigo mesma. Foram 6 meses disso, 6 meses de choro em quase toda a sessão, muito aprendizado e suor. Nesse meio tempo eu fiz escolhas, voltei atrás, me senti culpada, perdi hábitos, construí hábitos, e mantive o ciclo por um tempo até que aos poucos eles foi ficando mais esparso e parece que de uma outra pra outra eu me olhei no espelho e me vi.
Era como se eu olhasse pra uma Amanda que eu não via desde talvez o meio da faculdade. Aquela Amanda livre, com uma lista de sonhos totalmente coerentes mas mesmo assim muito grandes, sem toda a culpa, uma Amanda que não tinha nenhum medo de colocar coisas ambiciosas na lista porque aquela Amanda que amava astronomia, sabia que nem o céu era o limite.
Mas eu também vi uma nova. Uma que toda a culpa que eu tava sentindo não me deixava ver. A Amanda que amadureceu, que aprendeu a se sentir, se ouvir, falar. Uma Amanda que evoluiu muito, talvez não da forma que ela achava que deveria. Com diplomas, idiomas, experiências no currículo. Mas aquela que aprendeu a construir hábitos, a não desistir só porque não sabia lidar com o desconforto do começo, a focada, a comprometida.
Não quero que esse texto seja sobre me enaltecer, mas ele é sobre sobre me encontrar. Ás vezes a gente tem um olhar cruel pra gente mesma. Ás vezes a gente ta vivendo meio no automático, mas se parar pra prestar atenção, nos ouvir de verdade, ver de verdade, nos olhar no espelho com olhos mais gentis, muitas das coisas que fazemos talvez percam o sentido, e outra ganhem outros sentidos, outras dimensões.
Eu ainda to em uma luta com mil e uma coisas, minha vida não tá totalmente clara, a lista de sonhos ainda não tão ambiciosa, mas agora eu me lembrei como é me ouvir. Então se você tá nesse momento meio confuso, não faz aquela lista com cara de virada de ano que você não vai cumprir porque no final não faz sentido real.
Faz a lista mais subjetiva, tipo começar uma terapia, construir um hobby, cuidar da sua alimentação, fazer exercícios, melhorar sua qualidade de vida, cuidar da sua mente, corpo e alma. Quando essa base tiver estável, os sonhos simplesmente voltam e você para de ter tanto medo, porque você lembra que você é única, especial, merece e pode. Com medo sim, mas esse medo não é o que te para, mas o que te dá aquele friozinho saudável na barriga. E a culpa, ah, talvez o sentimento que até hoje mais me dói aceitar, se torne algo mais raro de acontecer, porque suas escolhas são coerentes e valem todo o risco, e se não der certo, pelo menos você tentou.
Então assim como o vídeo de 16 de dezembro de 2017, esse texto é pra dizer que eu vou continuar tentando e agradeço a aquela Amanda pela decisão tomada. A gente sempre merece mais uma chance.
E fiz um vídeo pra nunca esquecer desse agora:
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